Carta a Paulo Henrique Ganso

Caro Ganso.

Confesso que gritei alto um “puta que me pariu” quando li, na internet, sobre seu afastamento da equipe devido à lesão sofrida em seu joelho esquerdo. Minhas palavras pouco educadas foram proferidas como um lamento, uma grande tristeza que senti em saber que só poderemos contar com seu toque de genialidade em fevereiro do ano que virá.

Minha tristeza talvez seja a de milhões de brasileiros, Santistas ou não, que estão enfeitiçados com seu estilo elegante de jogar futebol. Não é todo dia que se encontra um craque que, com pouco mais de 20 anos, consegue mover-se pelo gramado como um veterano. Raríssimas são as oportunidades de encontrar, em um jogador de futebol, a inteligência na medida certa.

Quando a bola chega aos seus pés parece saber, com absoluta certeza, que a ela será dado um tratamento personalizado. Ao pegar a redonda, nunca a conduz para além do necessário – Com suas largas passadas, mantém a esfera protegida dos adversários que projetam seus pontapés violentos, conduzindo-a com maestria para soltá-la, mais redonda do que nunca, ofertando-a para um companheiro. Um passe de Ganso não é apenas um passe – é uma dádiva, uma oferenda onde a bola se torna o presente tão esperado por quem a recebe.

Nunca me canso de lembrar que você, Paulo Henrique, é quem muitas vezes me fez chorar como criança. Seja com a precisão e a potência com que chuta a gol ou mesmo em um lançamento longo com a classe e a elegância que passam a falsa sensação de como é fácil jogar futebol. Chorei demais na final do Paulista, quando disse com veemência que não sairia de campo, pois aquele era seu jogo. O Pacaembu tinha um dono naquela noite e seu nome era Paulo Henrique Ganso.

Entre os poucos craques que vi jogar, sempre tive eterna admiração por aqueles que decidiam uma partida em uma jogada que parecia impossível de ser executada. Como aquele seu toque de calcanhar na final do Paulista – bastou tocar na bola uma única vez para desguarnecer todo um sistema defensivo e destrambelhar a cabeça de uma fileira de quatro defensores. Em um jogo como o futebol, cheio de amarras e impregnado de táticas, seu toque de genialidade resolve, subitamente, o andamento de uma partida.

É fabuloso vê-lo em campo. Bastam dois ou três bons tratos na pelota para que possa exibir o talento daqueles que jogam pra cima dos adversários. Mesmo caçado por marcadores, sendo implacavelmente acossado, consegues inventar uma solução – penso estar vendo um show de mágica, mas nunca encontro sua cartola.

Toda uma nação apaixonada pela sua arte espera, ansiosamente, pela sua recuperação. Aproveite este período, repouse bastante. Terá, em sua volta, uma grande responsabilidade – o Santista sonha com uma terceira estrela estampada no peito. Entretanto, não perca seu tempo pensando nisso. Use-o para que possa voltar aos gramados e fazer o que mais sabe – distribuir sorrisos àqueles que amam o bom futebol.

#ForçaGanso

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